27 de dez. de 2011

Noite de Natal


Noite de Natal, sozinho, num quarto de motel
junto à costa perto do Pacífico -
ouviu?

Eles tentaram fazer desse lugar algo espanhol, há
tapeçarias e lâmpadas, e o banheiro é limpo, há
minibarras de sabonete rosa.

Não nos encontrarão por aqui:
as piranhas ou as damas ou os adoradores
de ídolos.

Lá na cidade eles estão bêbados e em pânico
furando sinais vermelhos
arrebentando suas cabeças
em homenagem ao aniversário de
Cristo. isso é uma beleza.

Em breve terei terminado esta garrafa de
rum porto-riquenho.
pela manhã vomitarei e tomarei banho, voltarei para
casa, comerei um sanduíche à uma da tarde,
estarei no meu quarto por volta das duas,
estirado na cama, esperando o telefone tocar,
sem responder, meu feriado é uma
evasão, minha razão
não é.

BUK.

26 de dez. de 2011

Um mundo cheio de João


João com o cabelo solto, 
João exigindo dinheiro, 
João da barriga grande, 
João da voz alta, alta, 
João da troca, 
João que se exibe para as garotas, 
João que acha que é um gênio, 
João que vomita, 
João que fala mal dos sortudos, 
João ficando cada vez mais velho, 
João ainda exigindo dinheiro, 
João escorregando pelo pé de feijão, 
João que fala mas não faz, 
João que escapa impune do assassinato, 
João que faz biscates, 
João que fala dos velhos tempos, 
João que fala e fala, 
João com a mão estendida, 
João que aterroriza os fracos, 
João, o amargurado, 
João dos cafés, 
João implorando reconhecimento, 
João que nunca tem emprego, 
João que superestima totalmente seu potencial, 
João que fica gritando sobre seu talento não reconhecido, 
João que culpa a todos.

Você sabe quem é João, você o viu ontem, você o verá amanhã, você o verá semana que vem.
Querendo sem fazer, querendo de graça.
Querendo fama, querendo mulheres, querendo tudo.
Um mundo cheio de Joãos descendo pelo pé de feijão.


Buk -  "O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio".

22 de ago. de 2011

O jeito que isso é

o inferno está lotado ainda
você sempre pensa que você está sozinho.

e você nunca pode dizer
a ninguém que
você está no inferno
ou eles vão pensar
que você está louco.

mas ser louco é
estar no inferno
e ser sensato também.

aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais
incomoda eles depois disso.

Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro ou mesmo
morrer.

quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder:
"bem, muito bem ... "

uma vez que você foi para o inferno
e voltou
é o bastante, é a
mais silenciosa celebração conhecida.

uma vez que você foi para o inferno
e voltou,
você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto a meia-noite

e coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu
em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.

uma vez que você foi para o inferno
e voltou.

BUK.

7 de jul. de 2011

Outra cama

outra cama
outra mulher

mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha

outros olhos
outro cabelo
outros pés e dedos.

todos à procura.
a busca eterna.

você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu à última e à outra antes dela…
é tudo tão confortável - esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta e usa o banheiro dela, é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e dorme mais uma hora.

quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente quer funcione, quer não.

você dirige até a praia e fica sentado em seu carro. é meio-dia.

- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos, cores, portas, números de telefone.

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais sensato.

você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.

Buk - O Amor É um Cão dos Diabos

13 de jun. de 2011

Quatro e meia da manhã

quatro e meia da manhã
os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã, são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
"ele tá bêbado de novo",
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e como algo esfaqueado e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.


fonte: http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2008/03/22/a-noite-sera-de-devagar-poema-de-charles-bukowski/

Oh Sim

há coisas piores do que estar só
mas costuma levar décadas
até que o percebamos e frequentemente
quando o conseguimos é demasiado tarde
e nada pior do que ser demasiado tarde.

Charles Bukowski
(tradução de Tiago Nené)


Origem: http://casadospoetas.blogs.sapo.pt/38862.html

26 de abr. de 2011

2 de abr. de 2011

462-0614

agora recebo muitas chamadas de telefone.
todas iguais.
"é Charles Bukowski, o escritor?"
"sim," eu lhes respondo.
e eles dizem que entendem minha escrita.
alguns deles são escritores ou querem ser escritores
e estão em empregos estúpidos e horríveis
e não conseguem nem encarar a sala
o apartamento
as paredes
essa noite...
querem alguém com quem possam conversar,
não podem acreditar que não posso ajudá-los
que não conheço as palavras.
não podem acreditar que agora mesmo me dobro em meu quarto
segurando minhas entranhas e dizendo. "Jesus Jesus Jesus, de novo não!"
eles não podem acreditar que as pessoas mal-amadas
as ruas
a solidão
as paredes
também são minhas e quando desligo o telefone
eles acham que escondi o jogo.
Não escrevo a partir da sabedoria.
quando o telefone toca eu também gostaria de ouvir palavras
que pudessem aliviar um pouco alguma dessas coisas.
é por isso que meu nome está na lista.

Buk - o amor é um cão dos diabos.

1 de abr. de 2011

Barata

a barata rastejou sobre os ladrilhos
enquanto eu estava mijando
e ao virar minha cabeça
ela enfinou o traseiro numa fenda.
peguei o inseticida e disparei o aerososol
e disparei e disparei oe finalmente a barata saiu e me lançou um olhar muito nojento.
então desabou dentro da banheira e fiquei assistindo à sua morte
com um prazer sutil
pois eu pagava o aluguel
e ela não.
recolhi-a com um tipo de papel higiênico
azul-esverdeado e joguei-a na descarga. era tudo o que se tinha a fazer, exceto que
nas redondezas de Hollywood e Western temos que seguir fazendo isso.
dizem que algum dia essa tribo herdará
a terra
mas faremos com que esperem mais alguns meses.

Buk - O amor é um cão dos diabos.

Meus camaradas


aquele ali ensina
aquele outro vive com a mãe.
e aquele outro é sustentado por um pai alcoólatra e rubicundo
dono de um cérebro de mutuca.
aque ali toma boletas e vem sendo sustentado pela mesma mulhar há 14 anos.
aquele outro escreve um romance a cada dez dias
msa ao menos paga o próprio aluguel.
aquele ali vai de lugar em lugar
dormindo em sofás, bebndo e proferindo seus discursos.
aquele ali imprime seus próprios livros numa máquina copiadora.
aquele outro vive num vestiário abandonado num hotel de Hollywood.
aquele parece saber como arranjar tostão depois de tostão, sua vida é um preenher de formulários.
aquele ali simplesmente é rico e vive nos melhores lugares enquanto bate às melhores portas.
aquele lá tomou café com Willian Carlos
Willian.
e aquele ali ensina.
e aquele ali ensina.
e aquele ali publica livros de auto-ajuda sobre como fazer as coisas e usa uma voz dominadora e cruel.
eles estão em todo o lugar.
todos são escritores.
e quase todo escritor é um poeta.
poetas poetas poetas
poetas poetas poetas
poetas poetas poetas
a próxima vez que o telefone tocar será um poeta.
a próxima pessoa a bater à porta ser á um poeta.
aquele ali que ensina
e aquele outro vive com a mãe
e aquele lá está escrevendo a história de Ezra Pound.
oh, irmãos, somos as mais doentes e as piores criaturas da raça.

Buk - o amor é um cão dos diabos.

25 de mar. de 2011

Melancolia


A história da melancolia inclui todos nós.
a mim, eu me contorço em sujos lençóis
enquanto observo as paredes azuis e o nada.
acostumei-me tanto à melancolia que
a cumprimento como uma velha amiga.
Ficarei de luto por 15 minutos por ter perdido aquela ruiva,
digo isso aos deuses. eu faço isso e me sinto completamente mal.
completamente triste, então me levanto
LIMPO
embora nada tenha sido resolvido.
é isso que consigo por chutar a bunda da religião.
eu deveria ter chutado a bunda da ruiva
onde seus miolos, seu pão e sua manteiga estão no…
Mas, não, eu tenho me sentido triste por tudo isso:
ter perdido a ruiva foi, somente, outra porrada que foi dada numa vida inteira
fracassada…
escuto os tambores no radio agora e forço um sorriso.
além da melancolia há algo de errado comigo.

Tradução de Alice Dias

Fonte: http://www.literaturaemfoco.com/?p=3123

De volta

Eu estava novamente em casa. Era ótimo. Recurvei-me sobre minha barriga. No Vietnã, os exércitos estavam lutando. Nos becos, os vagabundos mamavam em suas garrafas de vinho. Vi uma aranha escalando o peitoril da janela. Vi um jornal velho no chão. Havia uma foto de três garotas pulando uma cerca e mostrando muito das pernas. O lugar todo se parecia comigo e tinha meu cheiro. O papel de parede me conhecia. Era perfeito. Estava consciente de meus pés e meus cotovelos e meus cabelos. Não me sentia como se tivesse 45 anos de idade. Sentia-me como um maldito monge que recém houvesse recebido uma revelação. Sentia-me como se estivesse apaixonado por algo que fosse muito bom, mas não sabia exatamente o quê, exceto que estava ali, bem perto. Escutei todos os sons, os ruídos das motocicletas e dos carros. Ouvi os cães latindo. Pessoas rindo. Então dormi. Dormi e dormi e dormi. Enquanto uma planta olhava através da minha janela, enquanto velava meu sono. O sol seguia sua labuta e a aranha ficou a rastejar por ali.

Buk - Ao sul de lugar nenhum.

14 de fev. de 2011

Henry Chinaski - Cartas na Rua


Henry Chinaski é um pobre diabo que vive bêbado pelas ruas de Los Angeles. Depois de passar por dezenas de subempregos em mais de uma dúzia de cidades dos EUA, se emprega nos correios como carteiro temporário para entregar cartões de natal. Moleza pra quem já havia trabalhado em matadouros. Depois passa a carteiro estagiário. Começa bem, mas quando é transferido para a agência Oakford, cujo encarregado é Jonstone, um carrasco merecidamente apelidado de Stone, começa o inferno para Hank. os estagiários ficavam esperando que algum efetivo não viesse trabalhar para receberem alguma rota e só assim fazerem jus a algum pagamento. Stone reservava as piores para Chinaski. Toda rota tinha uma armadilha que só os efetivos conheciam e não contavam. Foi perseguido por cães raivosos e madames loucas. Sempre chegava atrasado e Jonstone o colocava no relatório. Hank tinha uma companheira, Betty, mais louca e alcoólatra do que ele. Betty era 10 anos mais velha. Mas era pro rabo dela que ele voltava quando Stone o sacaneava e não lhe dava serviço. Bebia a noite inteira com Betty e ia pro trabalho invariavelmente de ressaca. O correio era um emprego seguro, mas penoso e muitas vezes desumano.

Alter Ego Henry Chinaski - Bukowski - Cartas na rua

31 de jan. de 2011

A Tela

Não suporto as lágrimas
havia algumas centenas de imbecis
em volta de uma ganso que tinha partido uma perna
enquanto decidiam
o que fazer
quando um polícia apareceu
e sacou seu revolver
e pronto, o assunto estava encerrado
exceto para uma mulher
que saiu correndo de sua barraca
grintando que tinham matado seu animal de estimação
mas o polícia agarrou o seu cinto
e disse-lhe
vai para o raio que te parta,
queixa-se ao presidente da república;
a mulher ficou chorando desconsoladamente
e eu não suporto as lágrimas.

Arrumei a minha tela
e fui para outro campo:
os filhos da mãe haviam estragado
a toda a paisagem.

Buk

24 de jan. de 2011

Sonho

Não ando dormindo bem ultimamente; mas é sobre isso, exatamente, que pretendo falar. É quando parece que vou pegar no sono que acontece. Eu disse “parece que vou pegar no sono” porque não passa disso. De uns tempos pra cá, tenho cada vez mais a impressão, a sensação, de que estou dormindo e, no entanto, no meu sonho eu sonho com meu quarto, que estou dormindo e que tudo está no mesmo lugar onde deixei quando fui pra cama. O jornal caído no chão, a garrafa de cerveja vazia em cima da cômoda, meu único peixinho dourado circulando devagar no fundo do aquário, todas essas coisas tão íntimas que parecem que já fazem parte de mim como o meu cabelo. E muitas vezes, quando NÃO estou dormindo, deitado na cama, olhando pras paredes, cochilando, esperando pra dormir, é freqüente me perguntar: ainda estou acordado ou já peguei no sono e sonho com meu quarto?

Tem acontecido muita coisa ruim ultimamente. Mortes; cavalos correndo mal; dor de dente; hemorragias, sem falar noutras coisas que não convém mencionar. Volta e meia me vem a sensação de que, ora, pior é que não pode ficar. E aí eu penso, bem, pelo menos você tem onde morar. Não anda aí pela rua. Houve tempo em que não me importava com isso. Hoje acharia insuportável. São poucas as coisas que ainda acho suportáveis. Já fui alfinetado, lancetado, é, inclusive bombardeado… com tanta frequência que simplesmente não agüento mais; não conseguiria enfrentar outro fogo cerrado.

Buk - Fabulário Geral do Delírio Cotidiano

21 de jan. de 2011

O grande rebu da maconha

uma noite destas fui a uma reunião - em geral, o tipo do troço chato pra mim. sou, essencialmente, um solitário, um velho beberrão que prefere beber sozinho, talvez com a única esperança de escutar um pouco de Mahler ou Stravínsky no rádio. mas lá estava eu no meio da turba enlouquecedora. não vou explicar o motivo, pois isso já é outra história, talvez mais longa, e mais confusa ainda, porém, ao ficar ali parado, tomando meu vinho, ouvindo o The Doors, os Beatles ou o Airplane, misturados com todo aquele vozerio, percebi que precisava de um cigarro. estava a zero. como sempre, aliás. aí vi aqueles 2 rapazes por perto, braços caídos e oscilando; os corpos frouxos, feito gansos; pescoços girando; os dedos das mãos à vontade - em suma, pareciam feitos de borracha, um elástico que se esticava, puxava e partia. cheguei perto:
- ei, caras, um de vocês tem cigarro?
foi o que bastou pra borracha começar a saltar. fiquei ali parado, olhando, enquanto se entusiasmavam, estalando os dedos e batendo palmas.
- aqui ninguém fuma, bicho! BICHO, a gente não ... fuma.
- não, bicho, a gente não fuma, não desse tipo, não, bicho.
flipflop. flipflap. que nem borracha.
- nós vamos pra M-a-li-buuu, cara! é, nós vamos pra Mallii-bUUUU! bicho, nós vamos pra M-a-li-buuuuuu!
- é isso aí, cara!
- é isso aí, bicho!
flípflap. ou, flapflap.
não podiam me dizer simplesmente que não tinham cigarro. precisavam me impíngir aquele lance de religião: cigarro era pra gente careta. estavam indo pra Malibu, pra algum lugar onde iam "ficar numa boa", curtindo um pouco de erva. faziam lembrar, em certo sentido, essas velhinhas paradas pelas esquinas, vendendo "0 Atalaia". essa turma toda que vai de LSD, STP, maconha, heroína, haxixe, e remédio pra tosse, sofre da comichão d`O Atalaia: você tem que estar na nossa, cara, senão sifu, tá fora. esse lance é permanente e, pelo visto, uma OBRIGAÇÃO com quem usa esses baratos. não admira que a toda hora vão em cana - não sabem ser discretos - com o que lhes dá prazer; têm que APREGOAR que estão por dentro. e, o que é pior, tendem a ligar isso com a Arte, o Sexo, com o ambiente de Protesto. o Deus do Ácido deles, Leary, lhes diz: "desistam da luta. me sigam." aí aluga um auditório aqui na cidade e cobra 5 pratas por cabeça de quem quiser ouvir ele falar. depois chega Ginsberg, junto com ele. e proclama que Bob Dylan é um grande poeta. autopropaganda dos que ganham manchetes posando de maconheíro. América.

mas mudemos de assunto, porque isso também já é outra história. este negócio, do jeito que eu conto, e do jeito que é, tem braços à beça e pouca cabeça. mas, voltando aos rapazes que estão na crista da onda, os cucas de maconha. a linguagem que usam. chocante, bicho. tem tudo a ver. o pedaço. maneiro. bacana. cafona. careta. embalo. de repente. xará. coroa. por aí, e não sei mais o quê. já ouvi essas mesmas frases - ou seja qual for o nome que se queira empregar - quando tinha 12 anos em 1932. deparar com tudo isso de novo, 25 anos depois, não contribui muito pra se simpatizar com o usuário ' ainda mais quando considera que são o que pode haver de atual. grande parte dessa gíria se deriva do pessoal que usava drogas da pesada, a turma da colher e da agulha, e também dos velhos músicos negros das orquestras de jazz. a terminologia dos que estão de fato "por dentro" já mudou, mas os pretensos modernosos, como dupla a quem pedi cigarro - esses ainda falam no estilo de 1932.

Buk - Fabulário Geral do Delírio Cotidiano

Aos fazedores de poemas rápidos e modernos


é muito fácil parecer moderno
enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas;
eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou-
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa
na poesia e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia
você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu
não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta
para a vida,
mas não é tão fácil assim-
tal como no poema
se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com
poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída- portanto saia logo
e desista das
poucas preciosas
páginas.

Buk - Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski

18 de jan. de 2011

Nova guerra


e pensar que, depois que eu me for,
haverá mais dias para os outros, outros dias,
outras noites.
cães andando, árvores balançando
ao vento
não deixarei tanto.
algo para ler, talvez.
um rebelde na estrada
devastada
Paris às escuras

Buk - Memorias de um velho safado.

3 de jan. de 2011

Showbiz

Eu não aguento isto, você não aguenta isto e nós não vamos compreender isto então não aposte nisto ou nem mesmo pense nisto simplesmente levante-se da cama a cada manhã
lave-se
barbeie-se
vista-se
saia de casa
e aceite isto porque fora isso tudo o que resta é suicídio e loucura
então você simplesmente não pode ter muitas expectativas
você não pode nem ter expectativas
então o que você faz é trabalhar a partir de uma modesta
remuneração mínima como quando você sai
fique contente que seu carro
possivelmente esteja lá
e se está ... fique contente pelos pneus
não estarem furados
então você entra e se ele
dá a partida ... você dá a partida.
e este é o filme mais desgraçado
que você já viu porque você está nele...
cachê baixo e 4 bilhões de críticos
e o período mais longo de exibição
que você já desejou é um dia.

[extraído do livro The Last Night of the Earth Poems (1992), Black
Sparrow Press]

Origem: http://www.traducoesdeumvelhosafado.blogspot.com
(mais uma das belas traduções do velho amigo Athos)