1 de dez. de 2009

Deixe isso te envolver

Deixe isso te envolver, paz ou felicidade
Deixe isso te envolver...
Quando era jovem achava que essas coisas eram bobas, naturais. Era sangue ruim, mente torta, mal-educado. Era duro como granito, olhava de esguelha de dia. Não acreditava em nenhum homem e especialmente em nenhuma mulher.Ia vivendo o inferno em quartinhos, quebrei coisas, joguei coisas, andei através do vidro, maldito. Desafiei tudo, fui continuamente expulso, preso, dentro e fora de briga, dentro e fora da razão. Mulher era coisa só pra sacanear e insultar, não tinha amigos. Mudei de emprego e de cidade, detestava feriados, crianças, história, jornais, museus, avós, casamento, cinema, aranhas, lixeiros, sotaque inglês, espanha, frança, itália, nogueira e cor de laranja, álgebra me irava, ópera me punha doente, charles chaplim era falso e flores eram pra frescos. Paz e felicidade pra mim eram símbolos de inferioridade, inquilinas da fraqueza e de publicitários. Mas como eu segui com isso, minhas brigas nos becos, meus anos suicidas, meu trânsito por inúmeras mulheres - gradualmente começou a me ocorrer que eu não era diferente de ninguém, era igual, eles eram todos cheios de ódio, envernizado com banais ressentimentos, os homens com quem briguei nos becos tinham coração de pedra todos acotovelavam-se, avançando, logrando por ninharias, a mentira era arma e o enredo estava pronto, a escuridão era a ditadora. Prudentemente, permiti a mim mesmo me sentir bem por uns tempos. Tive momentos de paz em quartos baratos apenas fixando os olhos nos botões de alguma roupa, ou escutando a chuva no escuro, menos precisava melhor me sentia. Talvez outra vida tivesse me esgotado. Poucas vezes achava graça levando alguém no papo, ou trepando no corpo de alguma pobre bêbada que passou a vida mergulhada em mágoas. Nunca pude aceitar vida como aquela, nunca pude engolir todos aqueles venenos, mas houve partes tênues, mágicas partes, abertas, pra resposta. Me emendei não sei quando, data, hora, tudo isso mas a mudança ocorreu. Alguma coisa em mim relaxou, acalmou. não mais tive que provar que eu era homem, não precisei provar nada, comecei a ver as coisas: xícaras de café alinhadas atrás do balcão do café, ou um cachorro caminhando ao longo da calçada, ou o modo como o camundongo parou em cima da cômoda com seu corpo, suas orelhas, seu nariz, parado, pedaço de vida agarrada nela mesma e seus olhos me fitando e eles eram belos. assim – aquilo se foi. Comecei a me sentir bem, comecei a me sentir bem nas piores situações e havia muitas delas. Como disse o chefe atrás da mesa, ele estava pra me despedir, eu havia faltado por muitos dias. Ele estava vestido de terno, gravata, óculos, ele disse: “tenho que te mandar embora”. tá certo, eu disse. ele fez o que devia fazer, ele tem mulher, casa, filhos, despesas, muito provavelmente uma amante. Eu o desculpo ele estava surpreso saí pelo inflamado pôr-do-sol. O dia inteiro era meu temporariamente em todo caso. Todo mundo está engasgado com todo mundo, todos se sentem irados, ludibriados no troco, logrados, todos desanimados, desiludidos. dei boas-vindas a tentativas de paz, farrapos de felicidade. abracei aquela coisa, como números quentes, saltos altos, seios, cantoria, as obras. (não me entenda mal, é alguma coisa com otimismo estrábico que sobreolha todos os problemas básicos só por amor a si mesmo - isso é a cura e a doença) a faca tocou minha garganta de novo, quase voltei pro papo furado mas quando os bons momentos voltaram eu não lutei contra como se fosse adversário do beco. Me deixei levar, me deleitei neles, saudei boas-vindas ao lar. uma vez até olhando no espelho me achando feio, agora gostei do que vejo, quase bonito, sim, um pouco destruído e raivoso, com cicatrizes, inchado, expressão bizarra, mas no geral, não muito mal, quase bonito, pelo menos melhor do que aquelas de estrelas de cinema com caras de bumbum de bebê, e afinal descobri o real sentimento dos outros, não anunciados, como recentemente, como esta manhã, quando ia partir, na seqüência, vi minha mulher na cama, apenas a forma de sua cabeça lá (não esquecendo séculos de vivos e de mortos e de moribundos, as pirâmides, Mozart morreu mas sua música ainda está lá no quarto, ervas crescendo, terra girando, ”toteboard” esperando por mim) vi a forma da cabeça da minha mulher, ela tão calma, me doía por sua vida, apenas existindo ali debaixo das cobertas. beijei-a na testa, fui pra escada, fui pra fora, fui pro meu maravilhoso carro, coloquei o cinto de segurança, acionei a marcha, senti calor na ponta dos dedos, pus o pé no acelerador, e fui pro mundo mais uma vez, dirigi colina abaixo, além das casas cheias e vazias de gente, vi o carteiro, buzinei, ele acenou pra mim.

Charles Bukowski

Poema


é preciso muito desespero, descontentamento e desilusão para escrever alguns bons poemas. Não é para todos nem escrevê-los ou mesmo lê-los.

Charles Bukowski

17 de nov. de 2009

Textos Autobiográficos


BUKOWSKI - TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS
Charles Bukowski
editado por John Martin
Tradução de Pedro Gonzaga

30 de out. de 2009

Morrendo Bêbado.

Minha garrafa fica no armário
como um anão esperando para ferir minhas preces
bebo e tusso em uma sinfonia
há luz no sol e aves enlouquecidas em todo lugar pelos confins do mar revolto, bebo intensa e calamente agora
bebo ao paraíso e a morte e a mentira do amor.
[...] Quando minhas mãos pálidas deixarem cair
a última caneta em um quarto barato, eles vão me achar lá
e nunca saberão meu nome, minha intensão nem
o valor de minha fuga.
Charles Bukowski.

Várias vidas

Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas.
Charles Bukowski.

7 de set. de 2009

Como ser um grande escritor

Você tem que trepar com um grande número de mulheres, belas mulheres e escrever uns poucos e decentes poemas de amor, e não se preocupe com a idade e/ou com os talentos frescos recém-chegados, apenas beba mais cerveja e mais cerveja, e vá às corridas pelo menos uma vez por semana e vença se possível. Aprender a vencer é dificil - qualquer frouxo pode ser um bom perdedor, e não esqueça do Brahms e do Bach e também da sua cerveja. Não exagere no exercício, durma até ao meio-dia. Evite cartões de crédito ou pagar qualquer conta no prazo. Lembre-se que nenhum rabo no mundo vale mais do que 50 pratas (em 1977) e se você tem a capacidade de amar, ame primeiro a si mesmo, mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma derrota total mesmo que a razão para essa derrota pareça certa ou errada - um gosto precoce da morte não é necessariamente um coisa má. Fique longe de igrejas e bares e museus, e como a aranha seja paciente - o tempo é a cruz de todos, mais o exílio, a derrota, a traição, todo esse esgoto. Fique com a cerveja. A cerveja é o sangue contínuo, uma amante contínua. Arrange um grande máquina de escrever e assim como os passos que sobem e descem do lado de fora da sua janela bata na máquina, bata forte, faça disso um combate de pesos pesados. Faça como um touro no momento do primeiro ataque e lembre dos velhos cães que brigavam tão bem: Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun. Se você pensa que eles não ficaram loucos em quartos apertados assim como este em que agora você está, sem mulheres, sem comida, sem esperança, então você está pronto. Beba mais cerveja. Há tempo, e se não há está tudo certo também.
Bukowski - O amor é um cão dos diabos

6 de set. de 2009

Livros

1 - Mulheres ;
2 - O amor é um cão dos infernos.

3 de set. de 2009

Ódio

Há bastante deslealdade, ódio, violência, absurdo no ser humano comum para suprir qualquer exército em qualquer dia. E o melhor no assassinato são aqueles que pregam contra ele. E o melhor no ódio são aqueles que pregam amor, e o melhor na guerra, são aqueles que pregam a paz. Aqueles que pregam Deus precisam de Deus, aqueles que pregam paz não têm paz, aqueles que pregam amor não têm amor. Cuidado com os pregadores, cuidado com os sabedores. Cuidado com aqueles que estão sempre lendo livros. Cuidado com aqueles que detestam pobreza ou que são orgulhosos dela. Cuidado com aqueles que elogiam fácil, porque eles precisam de elogios de volta. Cuidado com aqueles que censuram fácil, eles têm medo daquilo que não conhecem. Cuidado com aqueles que procuram constantes multidões, eles não são nada sozinhos. Cuidado com o homem comum, com a mulher comum, cuidado com o amor deles. O amor deles é comum, procura o comum, mas há genialidade em seu ódio, há bastante genialidade em seu ódio para matar você, para matar qualquer um. Sem esperar solidão, sem entender solidão eles tentarão destruir qualquer coisa que seja diferente deles mesmos.
Charles Bukowski.

Capas de alguns dos seus livros - II

O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio;

Factotum

Hino da tormenta.

Solitário

Eu era um solitário por natureza, que se contentava em viver com uma mulher, em comer com ela, dormir com ela e sair à rua com ela. Não queria conversas, nem passear, a não ser para ir às corridas de cavalos ou às lutas de boxe. Não gostava de TV, e achava estúpido gastar dinheiro para ir numa sala de cinema com outras pessoas e partilhar as suas emoções. As festas me deixavam doente. Detestava as falsas aparências, os jogos sujos, os namoricos, os bêbados amadores e os chatos. [...] Como solitário, eu não suportava invasões. Isto não tinha nada a ver com ciúmes, simplesmente não gostava de pessoas, multidões, onde quer que fosse, exceto nas minhas leituras. As pessoas diminuíam-me e deixavam-me sem ar. [...] Eu não gostava de Nova Iorque, não gostava de Hollywood, não gostava de Rock, não gostava de nada. Talvez tivesse medo... "os maiores homens são os mais solitários".
Charles Bukowski - excerto do livro MULHERES.

2 de set. de 2009

Capas de alguns dos seus livros - I

1 - Ao Sul de Lugar Nenhum
2 - Cartas na Rua
3 - Hollywood
4 - Numa Fria
5 - Pulp
6 - Misto Quente

Vacas na aula de arte

Bom tempo é como boas mulheres - não acontece sempre e quando acontece não dura para sempre.Um homem é mais estável: Se ele é ruim é mais provável que continue assim, ou se ele é bom ele pode se fixar, mas a mulher se modifica para sempre pelos filhos, pela idade, pela dieta, pela conversação, pelo sexo, pela lua, por haver ou não haver sol ou bom tempo. Uma mulher tem que ser ninada pra subsistir pelo amor, onde um homem pode se tornar mais forte por ser odiado. Estou bebendo esta noite no Spangler's e me lembro das vacas que pintei certa vez na aula de arte e pareciam bem, pareciam está melhor do que tudo ali. Estou bebendo no Spangler's pensando em qual amar e qual odiar, mas já não há regras: amo e odeio somente a mim mesmo - os outros ficam além de mim.
Bukowski - Os 25 melhores poemas de Charles Bukowski

1 de set. de 2009

Alternativa possível

Eu me sentia como se fosse destinado a ser um assassino, um ladrão de banco, um santo, um estuprador, um monge, um eremita. Precisava de um lugar isolado para me esconder. Os cortiços eram desagradáveis. A vida dos homens são e medianos era tediosa, pior que a morte. Parecia não haver alternativa possível. A educação também me parecia ser uma armadila. A pouca educação que eu obtive me fez ficar ainda mais desconfiado. O que eram os médicos, os advogados, os cientistas? Apenas homens que se deixaram privar de sua liberdade de pensar e agir como individuos.
Bukowski - Misto Quente

Beber

E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo. Tudo mais te pinicando, te ferindo, despedaçando. E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto da minha vida., pensava. Deus, eles todos tinham cus, e órgãos sexuais e suas bocas e seus sovacos. Eles cagavam e tagarelavam e eram tão inertes quanto bosca de cavalo.

Bukowski - Misto Quente

31 de ago. de 2009

Circo de horrores

Fiquei cansado de ir aos bares e depois fiquei cansado até de dirigir até a loja de bebidas, comecei a encomendar por telefone. Eles me conheciam. Alguns tinham lido meus livros. Podia ouvi-los falando no fundo através do telefone, estavam discutindo sobre quem iria entregar o pedido, todos queriam entregar, eles queriam ver o circo de horrores: eu na porta com cabelo na cara, minha barriga de cerveja sob a camiseta, meus olhos vermelhos, minha barba por fazer, as garrafas no chão,  as mulheres. Eles queriam ver isso.
Bukowski - Vida desalmada

30 de ago. de 2009

Darlene

As fotos das strippers estavam expostas atrás de um vidro junto à porta de entrada. Aproximei-me e comprei um ingresso. A garota do guichê parecia melhor do que as fotos. Naquele momento me restavam 38 centavos. Entrei no teatro escuro equipado com oitos fileiras de poltronas. As três primeiras estavam lotadas. Tive sorte. O filme já havia terminado, e a primeira stripper já estava no palco. Darlene. A primeira era a pior, uma veterana decadente que não conseguiria, no mais das vezes, nada além de uns números de bailado na segunda linha do coro. Seja como fosse, tinhamos Darlene para a abertura. [...]
Darlene, no entanto, era boa. Magra, mas peituda. Um corpo que lembrava um salgueiro. Ao fim daquelas costas esguias, no meio daquele corpo magro, brotava um enorme traseiro. Era como um milagre - o suficiente para levar um homem a loucura.
Darlene trajava um vestido negro de veludo, longo e muito justo - suas panturrilhas e pernas pareciam de um branco mortiço contra aquela negrura. Ela dançada e nos olhava com os olhos de maquiagem extremanente carregada. Era sua chance. Ela queria retornar - ter novamente o seu numero no programa. Eu estava com ela. Á medida que o ziper descia, mas e mais o seu corpo ficava a amostra, saltando para fora daquele sofisticado vestido de veludo negro, pernas e carne branca. Logo ela estava apenas com seu sutiã cor-de-rosa e uma tanga cheia de penduricalhos, falsos diamantes que balançavam e reluziam aos seus movimentos.
Darlene seguia dançando e se agarrou à cortina do palco, que estava puída e coberta por uma grossa camada de pó. Ela se agarrou ao pano, dançando no compasso que o quarteto de músicos impunha e sob a luz rosada dos holofotes. Começou a trepar com a cortina. A banda acelerou o ritmo.
Darlene realmente se entregou para a cortina. As luzes rosadas passaram de súbito a púrpuras. A banda veio com tudo. Ela pareceu chegar ao orgasmo. Sua cabeça se curvou para trás, sua boca se abriu. Então ela endireitou e voltou para o centro do palco. De onde eu estava sentado, podia escutá-la cantar para si mesma por sobre a música. Agarrou seu sutiã cor-de-rosa e o arrancou, enquanto um cara três fileiras abaixo acendia um cigarro. Agora restava apenas a tanga. Empurrou o dedo contra o umbigo e gemeu.
Darlene seguiu dançando no centro do palco. A banda tocava com mais sutileza. Ela começou a se mexer com doçura. Então o quarteto começou a esquentar a coisa novamente. Os músicos avançavam para o ato culminante; o baterista atacava o aro da caixa lembrando o fogo de uma metralhadora; eles pareciam extenuados, desesperados.
Darlene manipulou seus seios nus, mostrando-se para a agente, seus olhos reluziam com a plenitude do sonho, seus lábios úmidos e entreabertos. De repente, ela se voltou e balançou seu imenso rabo para nós. As contas tremularam e brilharam em um bailado louco e cintilante. O canhão de luz acompanhava a dança e os movimentos como uma espécie de sol. O quarteto seguia botando para quebrar. Darlene girava e girava. Ela lançou as contas para longe. Eu olhei, eles olharam. Podiámos ver os pêlos de sua buceta através de sua segunda pele. A banda realmente fazia sua bunda vibrar. E eu não conseguia ficar de pau duro.
Bukowski - Factótum

29 de ago. de 2009

Mal-humorado

Acho que estou acostumado a me sentar num quartinho e fazer com que as palavras tenham algum sentido. Já vejo o suficiente da humanidade nos hipódromos, nos supermercados, nos postos de gasolina, nas estradas, nos cafés etc. Não se pode evitar. Mas tenho vontade de me dar um chute na bunda quando vou a festas, mesmo que a bebida seja de graça. Nunca funciona comigo. Já tenho argila suficiente para brincar. As pessoas me esvaziam. Preciso sair para me reabastecer. Sou o que é melhor para mim, sentado aqui atirado, fumando um baseadinho e vendo as palavras brilharem na tela. Raramente encontro uma pessoa rara ou interessante. É mais que pertubador, é um choque constante. Está me tornando um maldito mal-humorado. Qualquer um pode ser um maldito mal-humorado, e a maioria é.
Bukowski - O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.

Resposta

Lembro de uma carta longa e furiosa que recebi um dia de um cara que me disse que eu não tinha o direito de dizer que não gostava de Shakespeare. Muitos jovens iam acreditar em mim e não se dariam ao trabalho de ler Shakespeare. Eu não tinha o direito de tomar essa posição. E assim por diante. Não respondi na época. Mas vou responder agora. Vá se foder, colega. E não gosto também de Tolstoi.
Charles Bukowski - O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.

28 de ago. de 2009

Nada

Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a única coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e agora não tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo...
Charles Bukowski

27 de ago. de 2009

Atração

"... Sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era a soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais e nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro para viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com outro. Contudo, pouco me importava..."
Charles Bukowski.

Manhã


Há alguma coisa em mim que não consigo controlar. Nunca dirijo meu carro por cima de uma ponte sem pensar em suicídio. Quero dizer, não fico pensando nisso. Mas passa pela minha cabeça: SUICÍDIO. Como uma luz que pisca. No escuro. Alguma coisa que faz você continuar. Saca? De outra forma, seria apenas loucura. E não é engraçado, colega. E cada vez que escrevo um bom poema, é mais uma muleta que me fazer seguir em frente. Não sei quanto às outras pessoas, mas quando me abaixo para colocar os sapatos de manhã, penso, Deus Todo-Poderoso, o que mais agora? A vida me fode, não nos damos bem. Tenho que comê-la pelas beiradas, não tudo de uma vez só. É como engolir baldes de merda. Não me supreende que os hospícios e as cadeias estejam cheios e que as ruas estejam cheias. Gosto de olhar os meus gatos. Eles me alcamam. Eles me fazem sentir bem. Mas não me coloque em uma sala cheia de humanos. Nunca faça isso comigo. Especialmente numa festa. Não faça isso.
Charles Bukowski. - O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.


Nascido nisso.


Nascido assim nisso como o giz de faces sorridentes como a sra. Morte às gargalhadas, como as paisagens politicas dissolvidas, como o peixe oleoso cuspido fora de sua oleosa vítima.
Nos nascemos assim, nisso. Nos hospitais que são tão caros que são baratos para morrer, como advogados que cobram muito é mais barato pleitear a culpa num pais onde as cadeias estão cheias e os hospicios estão fechados, num lugar onde as massas elevam idiotas em herois ricos.
Nascido nisso, andando e vivendo dentro disso, morrendo por causa disso, castrado, corrompido, deserdado por causa disso. Os dedos se estenderam para um deus irresponsável, os dedos alcançaram a garrafa, a pilula, o poder.
Nos nascemos nessa triste linha de morte. Lá estará aberto e impunivel assassinato nas ruas, será armas e multidões passageiras, a terra será inútil, a comida terá um retorno mínimo, o poder nuclear será tomado por muitos, as explosões constinuarão balançando o mundo, homens radioativos comerão a carne dos homens radioativos, os corpos apodrecidos do homem e dos animais vão feder no vento da escuridão, e lá estará um bonito silêncio nunca ouvido.
Nascido fora disso, o sol escondido estará a esperado do próximo capítulo.
Buk.
Video no Youtube:

Pássaro Azul

Há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas eu sou demasiado duro para ele,e digo, fica aí dentro, não vou deixar ninguém ver-te.
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas eu despejo whisky para cima dele e inalo fumo de cigarros e as putas e os empregados de bar e os funcionários da mercearia nunca saberão que ele se encontra lá dentro.
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas eu sou demasiado duro para ele, e digo, fica escondido, queres arruinar-me? queres foder-me o meu trabalho? queres arruinaras minhas vendas de livros na Europa?
Há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas eu sou demasiado esperto, só o deixo sair à noite por vezes quando todos estão a dormir. digo-lhe, eu sei que estás aí, por isso não estejas triste. depois, coloco-o de volta, mas ele canta um pouco lá dentro, não o deixei morrer de todo e dormimos juntos assim com o nosso pacto secreto e é bom o suficiente para fazer um homem chorar, mas eu não choro, e tu?
Charles Bukowski
Video no Youtube:

24 de ago. de 2009

As pessoas interessantes.

"Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa (...) O problema é que tenho que continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar esse computador, se eu quiser dar a descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles mesmos me causem horror. E horror é uma gentileza."
Charles Bukowski - O capital saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.

21 de ago. de 2009

Se vai tentar...

Se vai tentar siga em frente. Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar,Vá em frente. Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.
Charles Bukowski

19 de ago. de 2009

Poema nos meus 43 anos

Terminar sozinho no túmulo de um quarto sem cigarros nem bebida – careca como uma lâmpada, barrigudo, grisalho e feliz por ter um quarto. De manhã eles estão lá fora ganhando dinheiro:
Juízes, carpinteiros, encanadores, médicos, jornaleiros, guardas, barbeiros, lavadores de carro, dentistas, floristas, garçonetes, cozinheiros, motoristas de táxi... E você se vira para o lado esquerdo pra pegar o sol nas costas e não direito nos olhos.
Bukowski - os 25 melhores poemas de charles bukowski

13 de ago. de 2009

As pessoas apaixonadas

Sinto-me contente por não estar apaixonado, por não estar contente com o mundo. Gosto de estar em desacordo com tudo. As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes susceptíveis, perigosas. Perdem o sentido da realidade. Perdem o sentido de humor. Tornam-se nervosas, psicóticas, chatas. Tornam-se até assassinas...
Buk - Mulheres

2 de abr. de 2009

Colhões

Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei, o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados com gravatas e bons empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de supresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas. Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade.
Buk- Ao sul de lugar nenhum - Pag. 135